sábado, 22 de agosto de 2009

Nosso Comportamento Animal advém do nosso Instinto?



Vôlei aquático

Os polvos são os animais invertebrados mais inteligentes que conhecemos. Eles são hábeis no uso de ferramentas e criativos na solução de problemas. Também têm personalidades bem definidas. “No aquário onde eu trabalho, temos a Emily Dickinson, que fica encolhida no tanque, e a Lucretia McEvil, que puxa para a água quem se aproxima”, diz o biólogo Roland Anderson. Há indícios de que eles também brincam. Ao analisar a reação dos animais diante de uma garrafinha de plástico vazia, Anderson percebeu que eles gostam de usar jatos de água para jogar o objeto para cima continuamente, como se estivessem praticando vôlei. Essas capacidades desafiam a tese de que a inteligência é desenvolvida em sociedade. Afinal, polvos são solitários e só vivem dois anos em média, pouco tempo para acumular experiências.A resposta para a grande inteligência dos polvos pode estar no lugar onde eles se desenvolveram: grandes bancos de corais, cheios de predadores e com várias opções de alimentos. “Os humanos também surgiram em um ambiente perigoso e cheio de possibilidades”, diz Anderson. “Por causa dessa similaridade, a inteligência dos polvos pode nos ajudar a entender a nossa.”

Diferenças sutis
AS 6 BARREIRAS QUE JÁ CAÍRAM...

Memória

Ovelhas e várias espécies de pássaros têm uma ótima memória visual. Entre os esquilos, ela é rapidamente ativada por cheiros. Ratos de laboratório que sentiram náusea por causa de uma mistura de limão e cloreto de lítio passam o resto da vida evitando qualquer coisa que tenha cheiro de limão.

Personalidade

Parte dos cientistas prefere falar em temperamento. Mas a nomenclatura é o que menos importa. O fato é que indivíduos de dezenas de espécies seguem, cada um, um padrão de comportamento. Um animal agressivo se comporta sempre com agressividade. Portanto, é possível que ele tenha identidade.

Mundo Interior

Assim como os humanos, vários animais nascem com uma tendência de comportamento, que se firma ou muda com o passar do tempo. Quando o ambiente entra em conflito com a personalidade, surge a frustração, que pode provocar ansiedade e depressão. Isso acontece conosco, mas também com várias espécies.

Consciência

Alguns testes apontam que golfinhos e grandes primatas têm consciência de si mesmos. Baseados nessas pesquisas, pesquisadores defendem que os primatas podem controlar seus impulsos. Há quem vá ainda mais longe e defenda que eles têm capacidade de imaginar o que outro animal está pensando.

Linguagem funcional

Tudo indica que, ao contrário de nós, os animais usam a linguagem de forma apenas funcional, para ajudar na busca por alimento, na reprodução ou na fuga de predadores. Mas as pesquisas mais recentes indicam que esses sistemas de comunicação pode ser bem mais desenvolvidos do que se pensava.

Cultura

Humanos, orangotangos e chimpanzés sustentam tradições culturais, desenvolvidas de acordo com o local e repassadas de geração em geração. Pesquisadores brasileiros desconfiam que esse seja o caso dos macacos-prego. Entre os golfinhos-nariz-de-garrafa, as mães ensinam os filhotes a caçar.

... E DUAS QUE CONTINUAM FIRMES.

Linguagem artística

Até onde sabemos, até hoje nenhum cachorro escreveu uma sinfonia, os orangotangos não conseguem programar um computador e as abelhas são incapazes de fofocar. Além de muito mais rica, a linguagem humana nos ajudou a criar a organização social mais complexa de que se tem notícia.

Visão do futuro

Orangotangos e macacos bonobos - e, desconfia-se, algumas espécies de aves – armazenam alimentos para garantir que eles não faltem no futuro. Mas, até onde as pesquisas alcançam, nem mesmo os grandes primatas pensam no futuro a longo prazo. Só nós temos a capacidade de pensar na nossa própria morte.

Trauma de infância

O vilarejo de Bunyaruguru, em Uganda, sempre conviveu bem com os elefantes. Mas, nos últimos anos, o lugar começou a ser atacado por manadas enfurecidas. Casos parecidos são reportados em toda a África e em algumas regiões da Índia. Ao avaliar o fenômeno, dois grupos independentes de pesquisadores chegaram a conclusões parecidas. Não se trata de busca por alimento. As agressões são uma reação à morte de elefantes adultos. Nos últimos 30 anos, a caçada a elefantes aumentou demais, e os elefantes órfãos cresceram muito mais agressivos do que seus pais. “Esses animais que perderam as mães em caçadas são muito sensíveis e sofrem estresse pós-traumático. Eles formaram gangues de adolescentes delinqüentes”, explica o biólogo norueguês Joyce Poole, que coordenou o estudo na África.

"Somos animais"

Com o livro Libertação Animal, de 1975, o filósofo australiano Peter Singer virou guru dos movimentos mais radicais de defesa dos direitos dos animais. Singer, que está com 59 anos e é professor de bioética em Princeton, falou a SAPIENS:

O que nos diferencia dos animais?

Todos nós somos animais. Podemos usar a linguagem de uma forma que nenhuma outra espécie faz, mas as similaridades entre nós e o resto do mundo animal são muito maiores do que as diferenças. Os grandes primatas são tão parecidos conosco, em termos biológicos e psicológicos, que deveriam ter direito à vida e a não serem agredidos sob nenhum pretexto. Na Espanha, um projeto de lei nesses termos já está tramitando no Congresso.

Nós valemos o mesmo que um rato?

Podemos dominar o planeta, mas nunca deixamos de ser apenas uma espécie coexistindo com outras milhares. Mas isso não significa que a vida de um rato vale tanto quanto a de um homem. O indivíduo mais importante é aquele com maior capacidade de sentir dor e com mais condições de pensar no futuro. Quem pensa na própria morte tem mais a perder.

Não podemos matar os animais?

Podemos, dependendo da situação. Mais importante do que matá-los ou não é garantir que seus direitos sejam respeitados em vida. Eles não podem sofrer, de forma alguma, enquanto estão vivos. Mas, em sociedades em que os animais são a única alternativa a morrer de fome, matá-los pode ser aceitável.


Nomes próprios

Para manter a comunidade reunida no fundo do mar, os golfinhos usam assovios que incluem informações repetidas. Já se sabia que cada indivíduo tem uma vocalização única, e que eles são capazes de copiar os assovios dos outros, mas ninguém tinha certeza da utilidade disso. Até que uma pesquisa com golfinhos-nariz-de-garrafa da Flórida chegou à conclusão de que, quando assoviam, os golfinhos estão chamando uns aos outros pelo nome. Para saber se os animais se orientavam pela voz do parente ou se aquele conjunto de sons formava uma palavra, os pesquisadores reproduziram os assovios mecanicamente. Quando o código correspondia a um parente, os golfinhos se voltavam na direção dos alto-falantes. É a primeira vez que o uso de nomes próprios é identificado em animais não humanos. Os golfinhos dessa espécie também parecem ser capazes de usar ferramentas e transmitir conhecimento.

Vale a pena ler

• A Vida dos Animais, J.M. Coetzee, Companhia das Letras, São Paulo, 2003

• Do Animals Think?, Clive Wynne, Princeton University Press, EUA, 2004

• A Expressão das Emoções nos Homens e nos Animais, Charles Darwin, Companhia das Letras, São Paulo, 2000

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